Não há como fingir o que não sou. Não consigo, por mais que tente, descrever o que me vai na alma. Por vezes, sinto as imagens tomarem forma e, durante alguns segundos, as palavras ganham o ritmo do grito que me abandona. É uma sensação fugaz, de duração mais curta do que o desejado. Penso se não é uma tentativa de parecer o que não sou. Há muito que me escapou a capacidade de ser fiel a um pensamento.
Gostaria de ser contadora de histórias. Histórias de lugares distantes e pessoas diferentes. Mas as imagens desaparecem tão depressa quanto chegam e não há como parar a água de um rio. É difícil vasculhar as memórias e encontrar as pessoas que fazem parte das histórias que me assombram. Quero contar a história de uns cabelos cor de fogo e de uns olhos de mar. Um vestido feito de cores de primavera, uma dança junto à lareira num dia frio. Há outra história que conta uma vida, de bom grado esquecida, de uns olhos azuis e cabelos negros. Quero contar o dia de um casamento transformado num dia de fuga. Quero contar a história de uma pele morena e de uma avó que chorou o abandono. De crianças que foram o orgulho de uma família, e de outra família cujas crianças eram verdadeiros diabinhos. Quero falar do ódio que uma mulher carregava no coração, de uns olhos cor de jade e de uma princesa que se refugiava enquanto observava os cisnes.
É fácil começar a imaginar, rodear os pensamentos de palavras bonitas e fazê-las chegar a outras pessoas. Porém, é mais fácil ainda perder o fio que tece a história e desistir de a contar. Mas eu sei, apesar de não ser contadora de histórias, que todos os fantasmas que me perseguem com as suas histórias, conseguirão contá-las, através das palavras que ainda não me atrevo a escrever.
26 de Agosto de 2005
Esta é uma caixa aberta aos sonhos sonhados todos os dias, escancarada à vida, feita de amores e desamores, alegrias e tristezas, sem lugar para a ideia de fim. Aqui tudo é começo e verbo.
sábado, agosto 27, 2005
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1 comentário:
Olá Pandora, a capacidade de contar estórias está dentro de ti. Pois se até de doiem os dedos das palavras não ditas. Basta esperar que cada estória se defina, ela mesma. E nessa cabecita tem montões de estórias fascinantes. Aqui estou, sentado, à espera delas.
LB
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